Cresci jogando Command & Conquer Red Alert 2. Para mim, este é um dos melhores RTS de todos os tempos. Quando Tempest Rising, jogo da Saber Interactive e da 3D Realms Entertainment foi anunciado, fiquei com aquela sensação de que a lacuna que eu tinha de um RTS futurista que colocasse duas grandes potências mundiais em disputa poderia acabar. O jogo, que será lançado para PC via Steam, coloca em disputa, assim como o clássico da Westwood e da Electronic Arts, forças “capitalistas” contra os “comunistas”, já disponíveis para jogar, e uma que ainda será lançada. E tudo isso utilizando-se de um evento real como ponto de partida: a Crise dos Mísseis em Cuba, o que é muito interessante.
Diante disso, nossa análise antecipada tentará responder se Tempest Rising é um RTS potente, sendo uma espécie de possível sucessor deste verdadeiro clássico, com excelente jogabilidade, muita ação e um pano de fundo sólido, ou é somente mais um jogo de estratégia em tempo real buscando o seu lugar ao sol. Sendo assim, prepare-se para o combate e venha comigo nesta análise do Pizza Fria!
Senta que lá vem história…
Modéstia à parte, como um bom professor de História, não há como não mencionar o pano de fundo de Tempest Rising e seu impacto narrativo. Saca só a doideira que o mundo já viveu. Em 1962, o mundo vivenciou a Crise dos Mísseis, ocorrida em Cuba, um confronto político-militar de 13 dias durante o período da Guerra Fria envolvendo os Estados Unidos e a União Soviética (GDA e Tempest Dynasty!?). O episódio iniciou quando os EUA descobriram a instalação de mísseis nucleares soviéticos em Cuba, a 145 km da costa da Flórida. A tensão atingiu níveis extremos e o mundo se viu à beira de uma guerra nuclear em plena Guerra Fria.
No entanto, a manobra soviética não foi à toa. Ela simplesmente foi uma resposta à fracassada Invasão da Baía dos Porcos, também em Cuba, e à presença de mísseis americanos na Itália e Turquia. Atendendo ao pedido de Fidel Castro, Nikita Khrushchev autorizou secretamente a construção de bases de lançamento em território cubano, e isso deixou os EUA, após detectarem essas armas com aviões espiões, a instaurar um bloqueio militar e exigir a remoção dos mísseis, algo resolvido após muitas negociações. Por fim, toda essa crise nuclear foi resolvida, resultando na criação de uma linha direta de comunicação entre Washington e Moscou, o tal do “telefone vermelho”.


Porém, em Tempest Rising, a parada é diferente: a Terceira Guerra Mundial eclode a partir dessa crise, levando o mundo todo a se posicionar diante da guerra nuclear, um medo real até os dias atuais. Inclusive, recentemente vimos o mundo em pânico questão entre Rússia e Ucrânia, que levantou novamente onde o mundo chegaria se tivéssemos uma guerra global com armamentos nucleares. Sendo assim, Tempest Rising remete a um medo comum desde que a Guerra Fria foi se dissolvendo. Embora o mundo não seja polarizado como naquele período, ainda há muitos resquícios disso na história recente.
Um mundo dividido, de novo
Ao jogar Tempest Rising, temos a possibilidade de comandar duas facções: a poderosa Tempest Dynasty e a versátil Global Defense Forces (GDF), tendo cada uma seus próprios estilos e mecânicas. Aqui, podemos comparar os EUA versus a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, mas com nomes bem diferentes, possivelmente para não parecer uma cópia de Red Alert 2. Porém, essa dualidade, bem comum nos jogos, não é uma ideia revolucionária, não é mesmo? Porém, se funcionar, como Tempest Rising faz, é isso o que vale.
A Tempest Dynasty, cheia de estilo e aquele sotaque diferenciado, é um grupo bem interessante. Não só por permitir a criação de uma grande arma gigante chamada Tempest Sphere, que varre os inimigos do seu caminho, mas também pelo seu sistema, que traz planos estratégicos que podem ser ativados a qualquer momento e que mudam totalmente o ritmo da partida. Se você quer acumular recursos, lutar ou mudar alguma característica da jogabilidade que esteja incomodando, você poderá através desta mecânica. Assim, ao alternar esses modos com inteligência, conseguimos expandir ainda mais o escopo da jogabilidade dos camaradas.

Já a GDF, vestida de azul para lutar, é mais focada em buffs, debuffs e controle de campo. Para quem ama microgerenciamento, suas mecânicas são sensacionais. Com elas, é possível marcar inimigos, coletar inteligência, desbloquear unidades avançadas, roubar estruturas inimigas e muito mais, divergindo totalmente da Tempest Dynasty. Quando joguei as duas campanhas, parecia que eu estava indo para outro jogo, tamanha a diferença tática. Ah, e vale lembrar que há uma terceira facção misteriosa ainda não jogável, o que me leva a crer que o futuro do jogo terá ainda mais emoção.
Campanha curta, mas excelente para introduzir as mecânicas do jogo
Particularmente, acho que campanhas em RTS são essenciais, e Tempest Rising traz isso de uma ótima forma. Embora as campanhas com a GDF e a Tempest Dynasty sejam relativamente pequenas, elas são extremamente úteis para que nós, jogadores, tenhamos todo o tempo do mundo para aprender as mecânicas de cada facção. Mas nem por isso a narrativa do jogo é mal contada. Como falei na introdução, somos colocados em uma Terceira Guerra Mundial, onde o Tempest, uma espécie de planta radioativa, acaba se tornando a principal fonte de energia da Terra, sendo este aspecto aquele algo a mais na trama. Aliás, isso até parece uma metáfora com um futuro não muito distante…
Com isso, a ideia de Tempest Rising se desenvolve de uma forma bem interessante. Antes da cada missão, temos uma espécie de briefing com alguns personagens que vão sendo apresentados justamente para dar cara a história contada. Nesse ponto, embora não sejam atores reais como em Red Alert 2, a coisa funciona muito bem, com animações bonitas, narradas de forma muito poderosa. Para quem não manja muito do inglês, felizmente os camaradas desenvolvedores fizeram a boa de legendar o jogo para português brasileiro, nos permitindo compreender cada detalhe que acontece. Porém, preciso mencionar que a história poderia ter um bocadinho mais de presença. Mas, nem por isso, ela é ruim.

Portanto, a ideia de guerra, radiação e caos é muito bem tratada em Tempest Rising, não sendo o jogo uma imitação de outros títulos, mas uma espécie de homenagem aos games dos anos 90. Particularmente, foi esse o charme do jogo que mais me chamou a atenção, me lembrando o tempo em que eu ficava horas e horas fazendo minhas bases e lutando no modo Skirmish de Red Alert 2. Neste quesito, seja contra a IA ou no multiplayer, o jogo também não desaponta. Como acabei jogando mais o modo contra a máquina, posso dizer que ela traz inimigos inteligentes, com táticas de guerrilha e comportamento altamente agressivo, sobretudo nos níveis de dificuldade mais altos.
Gráficos e sons surpreendentemente bons
A estética apresentada em Tempest Rising é fortíssima. A arquitetura dos prédios construídos é brutalista, fazendo novamente referências ao Red Alert e jogos dos anos 90. Além disso, a sensação de se estar em zonas de guerra pós-apocalípticas é muito imersiva. Prédios caídos, destruição, desníveis e pontes destroçadas dão uma boa dimensão do que essa Terra fictícia passou. Porém, não se engane: o visual do jogo, assim como seus menus são bem limpos, funcionais e bonitos. A sujeira mencionada, no caso, fica restrita aos mapas. Afinal de contas, seria bem sem graça um mundo imerso em caos ter tudo lá, lindo de bonito. Não faz nem sentido, né!?
Outro destaque do jogo são as várias unidades, muito bem modeladas, algo que fica nítido quando aproximamos a câmera. Ao fazer isso, não percebi, em nenhum momento, perda de qualidade nas texturas. Além disso, cada unidade tem suas características marcantes e fáceis de identificar no meio do caos das batalhas. A trilha sonora, outro aspecto bacana, mais uma vez referenciando o jogo da Westwood, dá um show, misturando tensão, nostalgia e um ritmo que embala o combate sem ser repetitiva ou até mesmo chata.

Vale a pena jogar Tempest Rising?
Meu amigo ou amiga, depois de tantos elogios, fica praticamente impossível não sugerir que você jogue Tempest Rising, sobretudo se você foi gamer nos anos 90. Afinal de contas, este jogo é uma baita homenagem aos RTS dos anos 90. Portanto, ele não é uma cópia barata ou algo do gênero, tendo sua própria personalidade e, o mais importante, um charme de um excelente jogo de estratégia. É muito mais que um sucessor espiritual, mas uma baita novidade para nós, amantes dos jogos deste gênero que, em minha modesta opinião, vem ficando cada vez mais opaco e dependente dos clássicos e seus remasters ou remakes. Tempest Rising está perfeito e prontinho para ser jogado.
Sendo assim, os desenvolvedores acertaram em praticamente tudo que se propuseram a fazer, em um jogo que chegou quietinho, mas promete muito ser um futuro clássico dos RTS. Minha sensação após horas e horas de jogo foi de total satisfação com cada erro, acerto e aprendizado obtido, seja na campanha ou nas escaramuças. Inclusive, acho que a terceira facção promete deixar Tempest Rising ainda mais completo, indo além da dualidade apresentada, que já funciona maravilhosamente bem. Portanto, seja você um veterano de guerra de jogos deste incrível gênero, ou um novato curioso, que quer conhecer mais sobre, Tempest Rising é um excelente jogo. Bem-vindo à guerra!
*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce RTX, com código fornecido pela 3D Realms.