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Steel Seed | Review

Jogos de ação sempre se destacaram pela criatividade ao manter o jogador engajado em um loop de gameplay que, por sua própria natureza, corre o risco de se tornar repetitivo. Títulos como Star Wars Jedi: Fallen Order, por exemplo, exemplificam bem essa dinâmica. Apesar de sua estrutura básica girar em torno de combates contra stormtroopers em variados ambientes, o jogo consegue oferecer uma experiência diversa ao integrar puzzles ambientais e desafios de plataforma.

Essa combinação garante uma jornada envolvente, ainda que dentro dos limites tradicionais do gênero. Nesses casos, a variação torna-se um elemento crucial para manter a imersão do jogador, mesmo que, na essência, ele esteja repetindo as mesmas ações ao longo da campanha. Afinal, é extremamente fácil cair na armadilha de entregar uma aventura cansativa e mecânica, ainda que cercada de boas ideias.

Foi com essa reflexão em mente que iniciei minha jornada em Steel Seed. Logo após assistir ao trailer e considerando minha experiência prévia com Close to the Sun — o jogo anterior do estúdio Storm in a Teacup, que flertava com a ambientação de Bioshock — não pude evitar o receio. Embora aquele título tivesse propostas interessantes, pecava justamente por se tornar repetitivo e por contar uma história que, infelizmente, não sabia bem para onde queria ir.

Assim, Steel Seed surgiu com a promessa de entregar uma campanha envolvente, centrada em confrontos pautados na furtividade. No entanto, os equívocos do passado ainda ecoavam em minha mente. O medo de que o novo projeto da desenvolvedora cometesse os mesmos deslizes era inevitável — e, infelizmente, acabou se concretizando. Durante boa parte da minha jornada controlando Zoe em um futuro distópico, me peguei constantemente esperando por algo que elevasse a experiência, algum momento de ruptura que tornasse a aventura épica e memorável. Essa expectativa, no entanto, jamais se cumpriu, e a sensação de frustração acompanhou cada capítulo da campanha.

Dito isso, ainda que a experiência geral tenha sido decepcionante, Steel Seed consegue entregar algum diferencial? Confira agora em mais uma review do Pizza Fria.

A jornada de Zoe e Koby

Steel Seed inicia sua narrativa apresentando Zoe, a protagonista, despertando em uma instalação subterrânea sem qualquer lembrança de seu passado. Seu corpo, agora modificado com partes cibernéticas, é movido por tecnologia avançada. Ela é recebida por Koby, um robô que assume o papel de guia neste ambiente misterioso e hostil. A única memória que Zoe ainda retém é a de seu pai e o desejo inabalável de reencontrá-lo — motivação que a impulsiona a seguir os passos indicados por Koby.

À medida que avança, ela se depara com uma realidade ainda mais sombria: a humanidade encontra-se à beira da extinção, e Zoe está presa em um complexo subterrâneo dominado por máquinas colossais e agressivas. Diante desse cenário, sua missão se torna clara — buscar respostas, escapar dos perigos à espreita e, se possível, encontrar uma maneira de impedir o colapso definitivo da civilização.

Steel Seed
Em Steel Seed, Zoe esta em busca do seu pai em um mundo com a civilização a beira da extinção. (Imagem: Divulgação)

No entanto, mesmo com essa ideia promissora, a narrativa de Steel Seed se mostra confusa e apressada. A história avança de maneira abrupta, sem oferecer o desenvolvimento necessário para criar um vínculo emocional com os acontecimentos. Zoe, em poucas cenas, é colocada como uma salvadora da humanidade — um papel assumido de forma repentina, sem um arco de crescimento que justifique tamanha responsabilidade. Essa falta de progressão narrativa é sentida em praticamente toda a campanha: eventos se sucedem sem explicações convincentes, e tudo parece acontecer por conveniência do roteiro, em vez de emergir organicamente da jornada da protagonista.

Seria compreensível se essa estrutura narrativa buscasse criar um clima de mistério, visando surpreender o jogador com reviravoltas e revelações impactantes. No entanto, Steel Seed não aposta nesse caminho. Sua história se resume a uma trama simplista e previsível, centrada na clássica figura do parente desaparecido, que inevitavelmente se conecta aos grandes problemas da trama central. Há tentativas de aprofundar o lore por meio de documentos colecionáveis e arquivos espalhados pelo cenário, mas essa estratégia falha em impactar quando a narrativa principal, que deveria carregar o peso emocional da experiência, não é envolvente.

Steel Seed
A narrativa peca ao entregar personagens pouco interessantes e uma trama sem impacto. (Imagem: Divulgação)

Mais decepcionante ainda é a falta de desenvolvimento da protagonista. Apesar de um mistério inicial relativamente intrigante, Zoe não evolui ao longo da campanha — nem em suas ações, nem em sua personalidade. Seus diálogos são quase sempre reações rasas aos perigos que enfrenta: ela expressa medo ao se deparar com alturas, comenta que os inimigos são assustadores, e repete constantemente sua obsessão em encontrar o pai. Em nenhum momento, no entanto, ela revela sentimentos mais profundos ou nuances que permitam ao jogador se conectar verdadeiramente com sua jornada. Ironicamente, sua atuação emocional é tão robótica quanto a de Koby, seu companheiro artificial.

A armadilha da gameplay repetitiva

Por outro lado, a jogabilidade de Steel Seed demonstra potencial, especialmente por apostar em um estilo de ação furtiva que tenta se distanciar de abordagens mais convencionais. Zoe é capaz de andar silenciosamente, correr, agachar-se, realizar ataques furtivos com uma espada de energia e eliminar inimigos pelas costas. O jogo também permite controlar Koby para criar distrações, atraindo inimigos para emboscadas. Esse sistema funciona bem, ao menos nos primeiros momentos. A tensão de eliminar robôs sorrateiramente e a necessidade de pensar em estratégias criam uma experiência inicialmente instigante.

Contudo, essa sensação rapidamente se dissipa. O jogo falha em introduzir novos elementos ou desafios conforme a campanha avança, fazendo com que as seções de furtividade se tornem repetitivas e, eventualmente, cansativas. A pouca variedade de inimigos compromete ainda mais a experiência: são raras as situações em que o jogador precisa mudar sua abordagem ou repensar sua estratégia. O combate corpo a corpo, por sua vez, é outro ponto fraco. Quando Zoe é detectada, os confrontos diretos com as máquinas tornam-se inevitáveis — e extremamente desbalanceados.

Steel Seed
O combate em Steel Seed é desbalanceado. (Imagem: Divulgação)

Mesmo jogando na dificuldade intermediária, as batalhas se revelam excessivamente longas e desproporcionais. Os inimigos, mesmo os mais simples, possuem uma barra de vida elevada demais, o que torna cada combate mais longo do que deveria. O sistema de ataque se baseia em golpes rápidos e fortes, com a possibilidade de realizar contra-ataques ao desviar no momento exato, mas a falta de fluidez e a ausência de variações nas lutas comprometem a tensão que estes confrontos deveriam gerar. Mesmo quando o jogo introduz variações — como robôs com escudos —, as estratégias para derrotá-los continuam sendo praticamente as mesmas, sem qualquer desafio significativo adicional.

É compreensível que o design tenha sido pensado para incentivar o uso da furtividade. Porém, quando a única forma “correta” de jogar é limitada, repetitiva e não apresenta uma curva de aprendizado satisfatória, o resultado é uma experiência que não sustenta o interesse do jogador até o final da campanha.

Desafios de plataforma que surpreendem, mas não são perfeitos

Um dos aspectos em que Steel Seed mais acerta, sem dúvida, são os trechos focados em plataforma. Quase todas as fases do jogo exigem que o jogador escale estruturas marcadas por faixas de LED amarelas, que indicam os pontos de interação. A progressão geralmente consiste em ativar elevadores, abrir portas ou acessar painéis para liberar o caminho até o próximo setor da instalação subterrânea. Embora esse design não reinvente a roda, a execução é sólida e satisfatória.

A jogabilidade nessas seções funciona de maneira bastante fluida. Zoe é uma personagem ágil, capaz de realizar pulos duplos, deslizar por superfícies específicas e até correr pelas paredes em pontos determinados. Esses movimentos permitem ao jogador explorar verticalidade e distância de forma dinâmica. Steel Seed ainda incorpora algumas sequências cinematográficas que elevam a intensidade desses momentos.

Em certos trechos, por exemplo, o jogador precisa escapar de um robô colossal que dispara incessantemente enquanto tudo ao redor é destruído, criando uma sensação real de urgência. Em outra sequência, um atirador de elite persegue a protagonista, forçando o jogador a correr entre pontos de cobertura para evitar ser alvejado. São momentos bem dirigidos, que inserem variação e tensão genuína à experiência.

Steel Seed
Os trechos cinematográficos são bem dirigidos e realmente empolgam. (Imagem: Divulgação)

Outro elemento que enriquece os desafios de plataforma é a interação com Koby. Em diversos momentos, é possível assumir o controle do pequeno robô para realizar ações complementares à movimentação de Zoe — como ativar geradores, abrir portas ou movimentar plataformas. Em uma das situações, por exemplo, a protagonista precisa alcançar uma borda que está abaixo da altura ideal para ser escalada. Nesse caso, o jogador deve utilizar Koby para atirar em um ponto específico, ativando o mecanismo que eleva a plataforma à altura correta. Ainda que esses puzzles não ofereçam um desafio elevado, funcionam como bons intervalos entre os segmentos de ação e ajudam a manter o ritmo da campanha variado.

No entanto, esses momentos também não estão isentos de falhas. O principal problema está relacionado ao level design e à iluminação dos ambientes. Por se passar inteiramente em uma instalação subterrânea, Steel Seed apresenta cenários excessivamente escuros. Essa característica estética, embora coerente com a proposta futurista e distópica, acaba prejudicando a clareza visual em seções de plataforma. Em diversas ocasiões, fiquei perdido por não conseguir identificar onde Zoe deveria pular ou escalar. Em outras, caí por simplesmente não conseguir visualizar a próxima plataforma com nitidez. E, infelizmente, falhas como essas acarretam a repetição de trechos inteiros — muitas vezes incluindo seções de combate — o que compromete a fluidez da experiência.

Gráficos e trilha sonora

Visualmente, Steel Seed é um jogo competente. A ambientação futurista, com estruturas colossais e uma direção de arte voltada para o sci-fi mais sombrio, contribui para um clima épico de ficção científica. Entretanto, essa estética, apesar de impactante à primeira vista, sofre com a repetição. A maioria dos ambientes se resume a corredores metálicos, pontes suspensas e salas industriais, todos muito semelhantes entre si.

Isso compromete a sensação de progresso, já que, mesmo após superar inúmeros desafios, temos a impressão de estar sempre nos mesmos lugares. Existe, sim, uma tentativa de variar o cenário com a introdução de uma área desértica — porém, esse trecho se resume a um breve vislumbre, e rapidamente somos levados de volta ao ambiente industrial predominante, o que reforça a limitação do design de mundo.

Steel Seed
Steel Seed é visualmente bonito, porém, os cenários poderiam ter mais variação. (Imagem: Divulgação)

Por fim, vale destacar um elemento que realmente se sobressai: a trilha sonora. Aqui, Steel Seed acerta em cheio ao entregar uma seleção de faixas instrumentais com forte inspiração em trilhas de ficção científica. As composições ajudam a reforçar a imersão do jogador, criando uma ambientação sonora que eleva a experiência, mesmo quando os outros elementos falham em manter o mesmo padrão de qualidade.

Desempenho

Minha experiência com Steel Seed foi realizada no PC, equipado com uma RTX 3060. O desempenho geral do jogo foi satisfatório, rodando em 1440p com as configurações gráficas no alto e DLSS ajustado para o modo “qualidade”. Nessa configuração, o título conseguiu manter uma média de 60 FPS ao longo da maior parte da campanha. No entanto, em trechos mais cinematográficos e carregados de efeitos visuais, percebi uma queda para a casa dos 50 FPS. Para manter a estabilidade desejada acima dos 60, foi necessário alterar o DLSS para o modo “equilibrado”.

Em relação a bugs, minha jornada não foi completamente livre de problemas. Em alguns momentos, a personagem caiu de plataformas sem motivo aparente, o que comprometeu a precisão das seções de plataforma. Além disso, em uma situação específica ao assumir o controle de Koby, o jogo falhou em permitir que eu retomasse o comando de Zoe, sendo necessário reiniciar o jogo. Apesar desses contratempos, considero que, no geral, a experiência foi tecnicamente estável.

Vale a pena comprar Steel Seed?

O grande dilema de Steel Seed reside no fato de apresentar ideias promissoras, mas que esbarram constantemente em limitações claras de execução. A proposta de combinar ação furtiva com plataformas e narrativa sci-fi é bastante atrativa, mas a realização prática acaba sendo decepcionante. O título até acerta nos trechos de plataforma, com uma protagonista ágil e mecânicas que funcionam bem, mas os desafios propostos raramente exigem mais do que mover-se do ponto A ao ponto B. A complexidade sugerida pelas habilidades de Zoe não encaixa no design limitado das fases, o que gera uma sensação de potencial desperdiçado.

O combate, por sua vez, é o elemento que mais decepciona. A progressão de desafio é quase inexistente, resultando em confrontos repetitivos e sem profundidade estratégica. Os combates corpo a corpo são particularmente frustrantes, com inimigos comuns apresentando uma quantidade de HP desproporcional, o que torna as batalhas longas e tediosas. Essa escolha de design parece ter sido feita para forçar o jogador a adotar a furtividade, mas, ao limitar as abordagens viáveis e tornar a única opção viável repetitiva, o jogo contradiz sua própria proposta.

Ainda que a trilha sonora se destaque como um ponto alto — com composições épicas e atmosfericamente adequadas ao cenário futurista —, esse mérito isolado não é suficiente para sustentar a experiência como um todo.

Por fim, fica dificil recomendar Steel Seed, pois, para os jogadores que buscam uma aventura de ação envolvente, variada e memorável, infelizmente, não encontrarão aqui.

Steel Seed foi desenvolvido pela Storm in a Teacup e chega nesta terça-feira, 22 de abril, para PC, via Steam e Epic Games StorePlayStation 5 e Xbox Series X|S.

*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce RTX, com código fornecido pela ESDigital Games.

Steel Seed

6

História

5.0/10

Gameplay

6.0/10

Gráficos e Sons

7.0/10

Inovação

6.0/10

Prós

  • Os trechos de plataforma são bons, graças as habilidades fluidas da protagonista e das interações com Koby
  • A trilha sonora é excelente e ajuda a construir uma atmosfera de ficção Cientifica
  • Os cenários são visualmente bonitos
  • Legendas em PT-BR

Contras

  • O loop de jogabilidade é repetitivo
  • Os inimigos tem pouca variação
  • A narrativa e os personagens não são bem desenvolvidos
  • O combate não funciona como deveria, com até mesmo inimigos comuns tendo HPs muito altos, tornando os combates desbalanceados
  • O jogo é muito escuro em alguns trechos, prejudicando os segmentos de plataforma