Desenvolvido pela Nitroplus — conhecida por visual novels como Saya no Uta e Steins;Gate —, Rusty Rabbit representa uma mudança significativa em relação ao que a especialista em VNs costuma produzir. Desta vez, a proposta é um metroidvania de ação com elementos de plataforma e RPG, jogabilidade em 2.5D e gráficos em 3D.
Mas será que o estúdio se saiu bem nessa nova empreitada, protagonizada por coelhos que exploram dungeons em busca de sucata? Descubra agora em mais uma análise exclusiva do Pizza Fria!
Começando com a pata direita
Rusty Rabbit nasceu da mente criativa de Gen Urobuchi, renomado por suas tramas intensas em obras como Saya no Uta e o anime Madoka Magica, e que aqui assina o roteiro. A produção fica por conta de Yuichiro Sato, fundador do Studio Chizu (Mirai no Mirai, Belle). Com nomes de peso envolvidos no projeto, meu interesse por essa proposta tão diferente foi imediato — e o resultado se mostrou extremamente satisfatório.
Acompanhamos Stamp, um coelho ranzinza e catador de sucata, que tem sua rotina interrompida pela chegada de um grupo de jovens exploradores em busca de algo misterioso nas profundezas das regiões de coleta. Percebendo que os jovens não estão preparados para os perigos do local, cabe ao protagonista protegê-los — enquanto busca pistas sobre o paradeiro de sua filha desaparecida.
Além da campanha principal, Rusty Rabbit oferece diálogos e textos opcionais que expandem a compreensão do mundo e ajudam a conhecer melhor os vizinhos de Stamp.

Após um início mais cadenciado, repleto de humor e que quebra frequentemente a quarta parede, a história de Rusty Rabbit começa a ganhar profundidade com momentos de impacto e reflexão, apresentados de forma eficiente. Acompanhamos dilemas religiosos e morais pelos olhos de um personagem cético em relação a fatos e à ciência — mesmo quando essas informações vêm de alguém da própria família. Essa abordagem contribui para uma narrativa central instigante, mais interessada em construir um protagonista complexo do que em gerar empatia imediata com o jogador.
Fora da campanha principal, o roteiro mantém sua consistência ao desenvolver os personagens e o mundo ao redor. À medida que interagimos com mais NPCs, a trama incorpora reflexões existencialistas a temas do cotidiano, como a preocupação com os filhos, sonhos não realizados, bullying e amizades. Fiel à sua reputação como mestre das narrativas, a Nitroplus apresenta tudo isso por meio de dezenas de páginas de conteúdo textual. Mesmo que esses relatos sejam mais cotidianos do que os fãs da desenvolvedora estão acostumados, não perdem em qualidade, sendo tão bem escritos quanto seus trabalhos anteriores.

Conteúdo vasto, jogabilidade nem tanto
Na maior parte do tempo, em Rusty Rabbit, estaremos quebrando blocos para avançar e enfrentando ou desviando de inimigos que nos cercam. Como se espera de um metroidvania, o jogo oferece diversas áreas para explorar, portas a serem desbloqueadas e segredos a serem descobertos. Com uma boa variedade de inimigos e obstáculos no cenário, o jogador também pode contar com itens de suporte para recuperar vida e remover efeitos negativos, como redução de dano ou velocidade. Diversos chefes surgem ao longo do caminho, exigindo mais habilidade nas seções de plataforma.
A dificuldade da campanha principal de Rusty Rabbit é relativamente baixa. Mesmo sem as melhores armas ou equipamentos defensivos, é raro morrer, já que os inimigos causam pouco dano. E mesmo que o jogador seja derrotado, o sistema de auto save, aliado às várias salas seguras espalhadas pelo mapa, facilita bastante a progressão. O verdadeiro desafio está nos mapas opcionais gerados aleatoriamente, onde inimigos e chefes têm atributos ampliados e não há checkpoints. Em compensação, esses mapas oferecem recompensas mais valiosas para quem se arrisca.

Em Rusty Rabbit, temos à disposição armas de curto e longo alcance, que servem tanto para combater inimigos quanto para desbloquear áreas específicas. Também contamos com habilidades de travessia, como planar e usar um gancho para se pendurar. Apesar de funcionais, essas mecânicas são limitadas e até semelhantes entre si, considerando a grande quantidade de mapas que exploramos apenas na campanha principal — que leva pouco mais de 15 horas para ser finalizada. Por volta da metade do game, o ciclo de puxar alavancas e encontrar cartões para abrir portas começa a se tornar repetitivo.
Outro ponto que compromete a experiência é a movimentação do personagem, que apresenta certa imprecisão. Isso pode gerar frustração em momentos simples de escalada ou no uso do gancho, cuja resposta é, infelizmente, pouco confiável. Ainda assim, como constantemente coletamos itens e desbloqueamos novas áreas, a progressão ajuda a manter o ritmo e evita que o título se torne monótono.
A performance de Rusty Rabbit também contribui positivamente para a experiência: os carregamentos são rápidos e, durante minhas 20 horas de jogatina, não presenciei travamentos, stutters ou problemas de renderização de texturas.

Visuais e trilha sonora caprichados
A qualidade gráfica de Rusty Rabbit impressiona, tanto nos cenários quanto nos modelos dos personagens, não ficando atrás de outros títulos do gênero. As texturas são bem definidas e a direção de arte se destaca pela variedade de ambientes: exploramos regiões com densa vegetação, instalações industriais frias, setores de entretenimento repletos de neon e até um submarino. Durante as muitas conversas com NPCs e reflexões do protagonista, o jogo utiliza artes estilizadas que enriquecem ainda mais os diálogos e reforçam a identidade visual da experiência.
A trilha sonora acompanha bem o ritmo da jornada, com temas cativantes durante os diálogos e faixas mais aceleradas nas fases de exploração. No entanto, senti que as músicas das batalhas contra chefes não foram tão empolgantes quanto aquelas que tocam durante a exploração, gerando uma certa inconsistência no impacto sonoro.
Rusty Rabbit também se destaca pelas ótimas dublagens em japonês e inglês, mas peca ao não oferecer legendas em português — uma ausência que pode dificultar o aproveitamento da história por parte do público brasileiro.

Vale a pena comprar Rusty Rabbit?
Mesmo sendo um projeto distinto em termos de jogabilidade, a Nitroplus sempre foi conhecida por sua veia experimental na construção de narrativas — e Rusty Rabbit segue essa mesma filosofia. O game entrega uma experiência com temas mais leves e eventos menos intensos do que outras obras do estúdio, mas mantém a qualidade e profundidade características da escrita da desenvolvedora.
Apesar da jogabilidade apresentar momentos frustrantes, o ritmo envolvente de exploração, os visuais criativos e o carisma dos personagens se sobressaem, tornando Rusty Rabbit um título divertido, original e cheio de identidade. Para quem busca uma aventura inusitada com forte apelo narrativo, vale sim dar uma chance a essa jornada no subsolo.
Rusty Rabbit, jogo de plataforma e ação em 2.5D, que será lançado no dia 17 de abril para Nintendo Switch, PlayStation 5 e PC, via Steam.
*Review feita em um Nintendo Switch, com código fornecido pela NetEase Games.