Fatal Fury: City of the Wolves Análises PC PlayStation Slide Xbox

Fatal Fury: City of the Wolves | Review

Quando falamos em Fatal Fury, é impossível não sentir aquele calorzinho da infância, dos fliperamas cheios e das tardes disputadas no Super Nintendo. Agora, anos depois, Fatal Fury: City of the Wolves chega com a missão de reacender essa paixão, trazendo de volta personagens icônicos, cenários vibrantes e uma boa dose de modernidade para quem cresceu com a SNK no coração.

Mas será que, no meio de tanta lembrança boa, a SNK conseguiu mesmo equilibrar respeito às raízes e novidades que empolguem uma nova geração? Vamos analisar todos os detalhes dessa aguardada volta em mais uma review aqui no Pizza Fria!

Uma volta ao passado: a essência de Fatal Fury

Bem, jovens amigos… Como de praxe, reapareço aqui para falar de coisas nostálgicas. Parece que foi ontem que o amigo que vos fala estava jogando em seu Super Nintendo mais um espetacular jogo de luta, na década de 90. Digo “mais um” porque, naquela época, minha infância foi brindada com clássicos como Street Fighter II, Mortal Kombat e Pit Fighter (bem, esse é melhor lembrarmos apenas da versão arcade…).

Enfim, numa era já consagrada por grandes títulos de luta nos consoles, sobretudo no SNES, a franquia Fatal Fury (conhecida por outros nomes dependendo do país) surgia como um caminho interessante. Personagens com histórias entrelaçadas, cenários “vivos”, uma noção de profundidade inédita para o gênero — permitindo que os lutadores se movessem para frente e para trás no cenário —, entre outros elementos, destacavam o título.

O primeiro Fatal Fury chegou com um subtítulo que mais tarde batizaria outra das franquias mais consagradas do mundo das lutas: King of Fighters. Mas, voltando ao Fatal Fury em si, minha experiência de horas a fio foi mais intensa com Fatal Fury 2 e Fatal Fury Special, que traziam um elenco de peso, com personagens de estilos, tamanhos e jogabilidades variados.

Fatal Fury: City of the Wolves
Rock Howard segue carregando o legado dos dois mundos — e agora com ainda mais estilo visual e impacto nas mãos. (Imagem: Divulgação)

Lembro que eu era viciado em lutar com Joe Higashi, mas também admirava o estilo de Terry Bogard, com seu boné icônico (inclusive, tenho um!) e sua inusitada calça jeans para um lutador. O personagem Raiden, com seu porte e estilo, também era memorável. Enfim, talvez “memória” seja a palavra-chave que justifique o enorme sentido do retorno desta amada franquia com Fatal Fury: City of the Wolves.

Talvez seja desnecessário aprofundar no fato de que a SNK foi uma gigante da indústria dos games, especialmente nos games de luta, com franquias já citadas e outras lendárias como Samurai Shodown, além de colaborações com a CAPCOM. No entanto, a empresa passou por dificuldades e definhou mercadologicamente até, mais recentemente, “ressurgir das cinzas”.

Já víamos sinais desse renascimento com relançamentos recentes, participações de personagens como Mai Shiranui e Terry Bogard em Street Fighter 6 e o bom resgate de King of Fighters em seu último título. Apesar disso, o novo KoF ainda dividiu opiniões, demorou a engrenar e não trouxe o brilho de edições icônicas como KoF ’98 e KoF 2002, por exemplo.

Fatal Fury: City of the Wolves
A pancadaria rola solta em South Town, com direito a torcida animada, luz neon e golpes que brilham (literalmente). (Imagem: Divulgação)

Tudo isso parece ter sido um ensaio para a chegada de um novo e promissor capítulo: Fatal Fury: City of the Wolves. Confesso que, ao iniciar a jogatina, estava tomado por um misto de expectativas: de um lado, o otimismo pela hype criada e pela paixão pela saga; de outro, a descrença, lembrando que os tempos de ouro da SNK estavam no auge do Neo Geo. Resolvi encarar de peito aberto… e eis que surge uma grata surpresa: jovens, o jogo é bom!

Antes de detalhar a jogabilidade e outras características, é importante lembrar que, embora minha nostalgia esteja ligada a Fatal Fury 2, Fatal Fury: City of the Wolves é, na verdade, uma continuação direta do clássico cult Garou: Mark of the Wolves.

Em termos de história, a trama de Fatal Fury: City of the Wolves se passa um ano após os eventos de King of Fighters: Maximum Mayhem. Rock Howard, filho de Geese Howard, descobre que sua mãe, Marie Heinlein — considerada morta —, está viva e mantida em cativeiro por Mr. Big. O resgate dela depende da entrega do “legado” de Geese, que inclui relíquias mágicas chamadas Pergaminhos Jin. Após um roubo misterioso, um novo torneio King of Fighters é organizado em Second South Town, com o legado como prêmio. Rock, acompanhado por Terry Bogard e outros aliados, participa do torneio para salvar sua mãe e enfrentar os responsáveis pelos eventos que marcaram sua vida.

Fatal Fury: City of the Wolves
Visual retrô com pitadas modernas: o cel-shading faz jus à ação intensa e ao charme urbano de Fatal Fury: City of the Wolves. (Imagem: Divulgação)

Modos de jogo

Além do tradicional modo arcade, que retorna com uma narrativa inédita centrada na disputa pelo legado de Geese Howard, Fatal Fury: City of the Wolves apresenta o modo “Episodes of South Town”, que incorpora elementos de RPG. Nele, os jogadores podem escolher missões espalhadas pela cidade, ganhar experiência e desbloquear novos conteúdos.

Esse modo, porém, gerou certa desconfiança e, podemos dizer, foi “mal diagramado” pela SNK em um primeiro momento. A primeira experiência é curta, repetitiva e com poucos benefícios aparentes. No entanto, o “pulo do gato” (com o perdão do trocadilho) está nos novos níveis desbloqueados após “zerar” o modo pela primeira vez. A partir daí, é possível acessar uma área “escondida”, mudar a dificuldade e ampliar o desafio, proporcionando uma imersão muito mais profunda no universo de South Town. Essa progressão permite aos jogadores explorar e interagir com a cidade de maneira única.

Fatal Fury: City of the Wolves
Quando o visual intimida antes mesmo do primeiro golpe. Tizoc chegou pra marcar território na porrada. (Imagem: Divulgação)

Claro que Fatal Fury: City of the Wolves também oferece os modos tradicionais de qualquer bom jogo de luta: versus, treino e, naturalmente, o modo online. Seguindo uma fórmula mais clássica, o modo online inclui partidas casuais — nas quais é possível escolher o nível inicial — e partidas ranqueadas mais robustas para quem busca competição séria.

O título conta ainda com suporte a cross-play e salas de espera, o que facilita bastante a experiência online. Em minhas primeiras experiências, não foi tão rápido encontrar um oponente, mas também não demorou excessivamente. Será interessante observar como os servidores e o sistema online da SNK se comportarão a longo prazo, já que o modo online foi um “calcanhar de Aquiles” nos últimos jogos de luta da empresa, como no próprio King of Fighters.

Mecânicas: respeito ao passado com toques modernos

Em termos de jogabilidade, Fatal Fury: City of the Wolves mantém a essência de Garou: Mark of the Wolves, trazendo algumas inovações interessantes. O sistema S.P.G. (Selective Potential Gear) substitui o clássico T.O.P., enquanto a grande novidade é o sistema REV, que permite ações amplificadas e defesas especiais, adicionando mais profundidade estratégica às lutas.

Contudo, a ausência de um modo de treino dedicado pode dificultar a compreensão e a utilização eficaz dessas novas mecânicas, especialmente para jogadores iniciantes. Trata-se de um título que permite sim se divertir “amassando botões”, mas que se revela muito mais interessante — e, ao que tudo indica, foi pensado — para jogadores mais experientes.

Fatal Fury: City of the Wolves
Nova geração no pedaço! Preecha mistura carisma, cor e combos rápidos numa estreia que promete render fãs (e rivais). (Imagem: Divulgação)

Seguindo uma tendência recente da indústria dos jogos de luta, como visto em Street Fighter 6 com o Controle Moderno, a SNK implementou o “Smart Style”, um estilo de controle simplificado para atrair novos jogadores. Embora essa abordagem torne Fatal Fury: City of the Wolves mais acessível, jogadores veteranos podem torcer o nariz para essa facilidade.

Em termos de gameplay, é interessante observar como a SNK conseguiu evoluir sem perder a fórmula clássica: o formato de combos, as mecânicas básicas de faint e cancel mostram uma evolução natural do sistema de luta, sem a sensação de “recomeço” que muitos sentiram em franquias como Street Fighter e Mortal Kombat.

Ainda nessa linha de modernidade versus nostalgia, visualmente Fatal Fury: City of the Wolves apresenta uma estética em cel-shading inspirada em quadrinhos, com animações fluidas e cenários detalhados. Embora a transição do 2D/pixel art de Garou: Mark of the Wolves para o “3D” de City of the Wolves tenha sido bem executada, alguns elementos de fundo poderiam ter recebido mais detalhes — possivelmente uma escolha estratégica da SNK para garantir o lançamento do jogo tanto para a nova quanto para a antiga geração de consoles.

Fatal Fury: City of the Wolves
Preecha em ação: velocidade, estilo e acrobacia em uma só sequência — e com a plateia de South Town vibrando no fundo. (Imagem: Divulgação)

Elenco: ícones retornam, mas com controvérsias

O elenco de Fatal Fury: City of the Wolves é composto, em grande parte, pelo cast clássico de Garou: Mark of the Wolves, com o retorno de ícones como Terry Bogard, Mai Shiranui e Rock Howard, além da chegada de novos personagens, como Preecha e Vox Reaper.

No entanto, a inclusão de Cristiano Ronaldo e do DJ Salvatore Ganacci gerou polêmica entre os fãs, que enxergam essas adições mais como estratégias de marketing do que como escolhas naturais para o universo de gameplay. De todo modo, independentemente de gostar ou não dessas inclusões, todos os personagens se encaixaram bem na jogabilidade de Fatal Fury: City of the Wolves.

Outro ponto interessante é que a SNK incorporou gratuitamente a Season 1 à compra da edição padrão do jogo — prática diferente da adotada por empresas como a Capcom, que costuma lançar a primeira temporada separadamente ou embutida em edições especiais mais caras no lançamento.

Neste sentido, confesso que senti falta de dois personagens que considero, junto com Terry Bogard, a alma de Fatal Fury: Joe Higashi e Andy Bogard. Apesar da ausência deles no elenco inicial, há uma boa notícia: ambos estarão disponíveis na Season 1 de personagens, juntamente com dois convidados muito especiais da franquia Street Fighter: Chun-Li e Ken.

Essa “permuta” entre universos parece ser uma estratégia interessante que promete atrair muitos jogadores para Fatal Fury: City of the Wolves.

Vale a pena comprar Fatal Fury: City of the Wolves?

Fatal Fury: City of the Wolves é, inegavelmente, um respiro nostálgico bem-vindo para os fãs da SNK — e mais do que isso, representa um passo à frente para uma franquia que há muito tempo pedia uma continuação digna. A SNK conseguiu entregar um jogo de luta que respeita suas raízes, mantendo a essência de Garou: Mark of the Wolves, mas ao mesmo tempo se abrindo para o público atual, com visuais modernos, sistemas acessíveis e modos de jogo ampliados.

É animador ver um lançamento dessa escala chegando tanto para a geração atual quanto para a old gen, o que contribui para manter a base de jogadores ativa e inclusiva. A decisão de manter o preço dentro de um padrão mais acessível em comparação com outros títulos AAA do gênero também é um ponto positivo — especialmente considerando que a primeira temporada de personagens será gratuita, algo raro atualmente.

Por outro lado, a escolha de guardar personagens clássicos como Joe Higashi e Andy Bogard para atualizações futuras, enquanto novos rostos (e até celebridades pouco relacionadas à franquia) ganham espaço no elenco inicial, pode soar como uma decisão de marketing forçada. A nostalgia pesa, e esses veteranos poderiam estar presentes no pacote base, deixando estreantes e convidados especiais para as atualizações posteriores.

Ainda assim, para quem curte games de luta — seja você um veterano das antigas ou um novato curioso —, Fatal Fury: City of the Wolves oferece um conteúdo robusto, divertido e com identidade. Se a SNK conseguir solidificar o modo online e manter um bom ritmo de atualizações, o título tem tudo para se firmar como um dos pilares da nova era dos fighting games.

Fatal Fury: City of the Wolves já está disponível para PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X|S, e PC via Steam e Epic Games Store.

*Review elaborada em um PlayStation 5, com código fornecido pela SNK Corporation.

Fatal Fury: City of the Wolves

BRL 249
8.5

História

8.0/10

Gameplay

9.0/10

Gráficos e Sons

9.0/10

Extras

8.0/10

Prós

  • Jogabilidade refinada, com mecânicas clássicas combinadas a novos sistemas como o REV e o controle simplificado Smart Style.
  • Visual em cel-shading bem trabalhado, com animações fluídas e estilo interessante.
  • Modo "Episodes of South Town" traz uma abordagem diferente ao single-player, com elementos de RPG e personalização.
  • Preço acessível em comparação com outros jogos de luta, especialmente considerando que a primeira temporada de personagens será gratuita.
  • Disponível tanto na geração atual quanto na antiga, o que amplia o acesso.

Contras

  • Elenco inicial deixa de fora personagens clássicos importantes, como Joe Higashi e Andy Bogard.
  • Modo "Episodes of South Town" , que por um lado é um pró interessante, foi mal “sinalizado” e pode deixar os jogadores sem jogar a sua “segunda parte”
  • Inclusão de celebridades como personagens jogáveis soa forçada.